sexta-feira, 14 de maio de 2010

Dois: A primeira Noite

E olhando pra ela acabou adormecendo profundamente
Não sei se por dor ou por amor, mas dormiu o homem
Sono pesado e turbulento
Sonhava, transpirava e girava de um lado pra outro
Como se tivesse acordado via, mas não via
No sonho ele via, suas boas ações que não eram boas
No sonho era verdade, que a verdade não era mentira, mas se fazia mentira
depois de acordar.
Via que suas atitudes inocentes não eram inocentes, mas inocente se ia
e nesse ir, veio, mais ao acordar era inocente de novo, porque a verdade existia no sonho
E antes do sol se levantou, ainda com dores ergueu a face para o horizonte
E a dor era mais forte na alma, do que no corpo
Arde no seu peito o desejo de se tornar uma lenda
De ser luz, de voar, de dominar e servir
Nas suas costas as marcas da batalha, não o deixavam esquecer
as coisas boas que fizera, mas as más lhe pareciam mais fortes
mais marcantes, mais intensas
“Ah!” Exclamou para o vento, o sol já vinha nascendo
E seu tormento sumindo proporcionalmente
Mas se lembrava a todo momento que a noite iria voltar
Não havia dor, nem palavra, não havia nada
Apenas pensamentos,que eram nada.
Mas o nada o que incomodava.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Um: primeiro entardecer

Flutuando os pés trocava passos
em meio ao escuro chão do castelo
Com uma mão na testa e outra no peito
Com os olhos pálidos e a pele levemente morta
Sente em sua boca o gosto doce das flores de terra que comera
Sua mente pensa, ou não, ela anda como sonâmbulo à noite.
Parece não estar consciente, mas certamente se lembrará de tudo no outro dia
Seus cabelos bem penteados e escuros, tão escuros quanto estava seu coração
naquela noite
Continuava a andar... tonta , mas continuava
encostava na parede para não cair
mas já não tinha tantas forças
esperava por algo ou alguém, não sabia ao certo
e como sua espera se tornara insuportável, ela gritava
Mas ninguém ouvia, ou assim parecia ser
Na verdade alguém ouvia, ele ouvia
Mesmo a uma distancia enormemente grande
Enquanto passeava no bosque ele a ouvia
Montou em seu cavalo e saiu ao seu encontro
Quanto mais ele corria mais longe parecia ser
O vento tocava violentamente seu rosto
Seus olhos não mas abertos conseguiam ficar
Mas já conhecia o caminho
Por pouco não caiu, mas se manteve firme com as rédeas
nas mãos.
Ele cantava uma canção com sua voz tremula
não se entendia o que ele cantava
Mas notava-se que sua canção atraía os animais por onde passava
O leopardo da montanha, o falcão encantador
Serpentes enterradas, respeitadoras do seu amor
Ursos e mamutes, Águias seguindo-o por vôo
E marchando continuavam em meio a pântanos, desertos e florestas
E quando a menina deu um ultimo suspiro para cair
ele pulou de seu cavalo, a águia o agarrou pelas costas com suas garras afiadas
e o arremessou através da janela, e em um vôo certeiro
ele pega a menina nos braços antes mesmo que ela flexionasse a coluna
E em um abraço demorado se tornaram uma só luz
Tornando claro o chão daquele castelo
Derretendo a neve que havia no telhado
Aquecendo os animais fadigados da longa marcha
E então levou-a a seus aposentos e fez com que ela dormisse
E mesmo com fortes dores nas costas e sangrando
Assentou-se ao lado da cama e lentamente respirando olhava a menina dormir.